O Bolo de Mármore da Minha Mãe
Quando vi o desafio Conte-me a Sua Receita, do excelente blog Cinco Quartos de Laranja, pensei imediatamente que tinha de participar com alguma receita da minha infância. Mas isso coloca-me um grande problema: é que, em criança, eu praticamente não comia. Não gostava de comer fosse o que fosse e até as melhores guloseimas se estragavam nos armários, à espera do meu apetite. A única coisa que me lembro de gostar era de sopa. “Quando for grande, em minha casa só se vai comer sopa!”, dizia eu, do alto da enorme sabedoria dos meus 4 ou 5 anos. A minha mãe, verdadeiramente sábia, não me ligava e lá ia tentando, por todos os meios, que eu comesse algo mais do que sopa.
Apesar desta inexplicável falta de apetite (estava rodeada de boas cozinheiras por todos os lados – a minha mãe, as minhas duas avós e as minhas maravilhosas tias, todas cozinheiras de mão cheia), havia pelo menos uma coisa que a minha mãe fazia muitas vezes e que eu adorava ajudar a fazer, mesmo que depois acabasse por comer muito pouco: Bolo de Mármore, feito sempre da mesma maneira e sempre com excelentes resultados.
Lembro-me perfeitamente de o fazer com ela, na velha mesa da nossa cozinha de armários verdes. Lembro-me de ver a receita rabiscada no velhíssimo caderno de receitas da minha mãe, que há muito tinha perdido a capa:
6 ovos
250 g manteiga
2 chávenas de açúcar
3 chávenas de farinha
1 colher de fermento
1 colher de chocolate em pó
Mistura-se tudo menos o chocolate e bate-se bem com a colher de pau até fazer bolhas. Tira-se um terço da massa e mistura-se o chocolate em pó.
Deita-se metade da massa branca na forma untada e enfarinhada. Cobre-se com a massa de chocolate e depois deita-se o resto da massa branca. Vai ao forno até um palito espetado no bolo sair limpo.
E assim fazíamos, eu a segurar na tigela com toda a minha força, porque a massa ficava bastante presa (nessa altura ainda não tínhamos aprendido que a manteiga pode bem ser derretida, o resultado final é o mesmo), enquanto a minha mãe a batia segurando a colher de pau com as duas mãos. E no nosso forno a gás, o bolo lá cozia, devagar como se quer que cozam os bolos (hoje sabemos que é a 180º; como se fariam as contas aos graus naquela altura?!), até o palito sair limpo.
Sempre me espantavam estas medidas em chávenas e colheres. Nunca sabia bem que chávena havia de usar, até que a minha mãe explicou que não interessava qual era a chávena, desde que fosse sempre a mesma e sempre cheia da mesma maneira, quer para a farinha, quer para o açúcar. Também achava estranho que usássemos farinha com fermento (lá em casa farinha de bolos era farinha Branca de Neve), e puséssemos mais fermento, mas era mesmo assim que fazíamos.
Este bolo foi feito vezes sem conta lá em casa, desde a minha mais tenra infância até à idade adulta, aí já por mim. Sempre sem batedeira, sempre com os ingredientes misturados todos na taça ao mesmo tempo, ultimamente já com a manteiga derretida para que a massa fosse mais fácil de bater.
Por se misturar tudo de uma vez, sai um bolo denso e húmido, não fica leve e fofo, mas é assim que eu gosto dele. Quando era eu a fazer tirava sempre metade da massa, em vez de 1/3, para pôr o chocolate (sempre mais de 1 colher), mas este bolo é bom até sem chocolate (ou só de chocolate).
Vai uma fatia?
Comentários
claro que sim, venha daí essa fatia! :)
Curioso, na minha casa também se acrescentava fermento à farinha já com fermento. Fermento Royal, era a marca. E por causa disso, eu às vezes também acrescento! Tenho sempre uma embalagem de fermento Royal em casa :)
Gostei muito do bolo mármore e das memórias a ele associadas.
Muito obrigada pela participação.
Um beijinho.
Beijinhos, fico à espera de ver as receitas deixadas por todos os participantes!
http://whiteplate.blogspot.com/2009/09/marmurkowa-babka-kokosowo-kakaowa.html
Desculpe o meu portugues- estou a estudar.
Beijinhos
Apesar de não perceber polaco, o bolo parece-me semelhante. Este é um dos meus preferidos, feito lá em casa sempre que é preciso um bolinho bom e depressa.
Obrigada pela visita e pelo comentário!